quinta-feira, 14 de junho de 2012

Paz exe .


Um menino de rua vagando pelo Rio de janeiro, observa uma aglomeração de pessoas na praia de Ipanema. Chama seus companheiros e todos ficam olhando de longe os
"Bacanas" conversando, se organizando, movimentando faixas com dizeres que mal conseguem ler, pelo simples fato de não terem frequentado uma escola por tempo suficiente.
O garoto pega uma latinha e começa a puxar com a boca seu conteúdo e uma sensação estranha toma seu corpo como se aquele passaporte desse o direito de esquecer tudo que esta acontecendo na sua vida de 14 anos pra cá, quando num piscar de olhos fora expelido de uma barriga por uma parteira no alto da Favela de frente para a imensidão da vista que deslumbra os turistas americanos na zona sul do Rio.

Não soube explicar o que aconteceu depois daquele "MIlagre", sua memória o permite evoluir os pensamentos até os 7 anos quando resolveu que não suportaria mais a gritaria dentro do seu barraco. As agressões constantes por parte de seu padrasto alcoolizado que espancava sua mãe praticamente todos os dias. Ela lavava roupas para a classe média e ganhava o suficiente para comprar uma cesta básica que mal dava para alimentar seus outros 4 irmãos.
Sua vida no início era até um pouco mais organizada, a mãe dedicada o obrigava a ir para a escola pública, onde conheceu outros meninos com vidas muito semelhantes.
Quantas vezes eles não saíram de lá assustados com os tiros que partiam dos Fuzis possantes dos traficantes protegendo seu comércio da tentativa constante de invasão por parte de um grupo Rival. Ele não entendia muito bem o que se passava ali, depois de um tempo passou a ser normal ouvir tiros e bombas, chegar em casa e ver a mãe chorando, encontrar cadáveres nas escadarias da sua comunidade. Quando fugia da aula ia para praia e ficava encantado com o mar, ainda moleque, jogava futebol com os coleguinhas e essa era a parte mais legal do seu dia.
Percebeu então que existiam duas vidas para serem sobrevividas, uma dentro do barraco para o qual sempre voltava a noite depois de passar o dia todo perambulando pelas ruas e o a outra que o colocava em contato com uma rotina de violência constante.
Não foram poucas as vezes que tomou tapa na cara dos policiais que faziam ronda pela região.
Um dia quando voltava da aula encontrou um tumulto perto da porta da sua casa e viu seu padrasto sendo espancado por um grupo de homens que o violentavam mais ou menos como ele via o marido de sua mãe fazendo com ela, mas notou que algo estava saindo do controle, o padrasto ensanguentado, espumava pela boca e sangrava muito.
Veio um sentimento de vingança em seu coração.
Por tudo que já tinha visto, aquele homem merecia isso mesmo. O que ele não esperava era entrar na sua casinha e encontra sua mãe com uma faca de cozinha cravada nas costas, seus irmãos em desespero e uma cena que jamais sairia de sua cabeça.
Aquilo feriu profundamente sua alma, a vontade de chorar era imensa mas a dor não permitiu. A Mãe batia nele as vezes, quando ficava sabendo que não estava estudando, ou fazendo os pequenos trabalhos para ajudar em casa, mas afinal de contas um menino de 10 anos, realmente tem que trabalhar ??????????????????????????????????
Ele não chorou.
Saiu em silêncio, caminhou até uma escadaria e depois correu com a sensação de estar completamente sozinho. Suas fugas sempre encontravam um olhar de perdão de sua mãe que agora estava no céu. Ela costumava dizer pra ele que os amiguinhos que perdera estariam esperando no céu para que pudessem voltar a brincar. Prematuramente o menino teve que aprender a conviver com a violência constante a que era submetido.

Vagou, vagou, passou a noite na rua e com o tempo foi se tornando parte da paisagem invisível do Rio de janeiro. A fome que sentia fez com que cometesse alguns furtos, não era da índole dele, afinal de contas ele gostava de jogar futebol, queria ser como o Ronaldinho, que vira ser celebrado como um DEUS nos jogos do Brasil que passavam no boteco da favela. Mas não tinha o que comer e onde ele passava para pedir algum trocado ou alimento, viravam a cara. Como ele, outros tantos tinham histórias parecidas para contar. Arrumou umas bolinhas de tênis e resolveu fazer malabarismo na frente dos carros quando o sinal fechava. Ganhava em troca um monte de cara feia quando se aproximava do vidro, algumas ofensas e eventualmente uma moeda ou outra que dava pra comprar um pão.
A noite quando ia para a praia de Copacabana observava os prédios gigantes e suas luzes acesas, ficava pensando oque acontecia lá. Como deveria ser a vida daquelas pessoas. Não passavam muitos pensamentos bons porque os 12 anos de vida até o momento só haviam trazido más recordações.
Foi quando um de seus colegas chegou com uma lata de cola e ofereceu prometendo uma fuga imediata daquela solidão.
Ele não tinha porque não experimentar.
Cheirou a cola e se sentiu distante de tudo, num outro planeta, protegido como nunca antes, com vontade de sorrir, como nunca tivera motivo, e com o fim do efeito o menino pediu mais e mais e mais........ os dois se juntaram a mais três e formaram um grande grupo.

A falta do que fazer durante o dia, gerava pensamentos obscuros em sua mente. Um dos meninos que já havia feito pequenos trabalhos para os traficantes começou a contar como se ganha um dinheiro fácil alertando os comerciantes de droga soltando rojões quando a policia chega. Dava pra comprar os tênis igual ao dos playboys dizia ele.
Dava pra comprar mais um monte de coisas.
Dinheiro.... precisamos de dinheiro.
Precisamos comprar.
Precisamos Ter.
Mas não temos e o que vamos fazer então ?????????

O tempo foi passando e a inevitável experiência de rua fez com que fosse perdendo sua inocência, as surras da polícia, as brigas com grupos rivais, as noites de barriga vazia, os carros que arrancavam com sua presença, a indiferença das pessoas com a sua dor. A mente continuou bombardeando sua cabeça de informações, as únicas que possuía lógico. Violência, brigas, confusões, tiros, bombas, porradas, pesadelos......
Seu coração foi congelando e ele já não queria mais ser como o RONALDINHO , porque afinal de contas ele não tinha nem o que comer .... como poderia ser um bom jogador?????

Voltou para o Morro, conheceu alguns aviões e passou a levar droga para as ruas, nos bares próximos da favela, ganhando um dinheiro fácil. Era arriscado ele sabia, mas valia a pena. Nunca mais virá seus irmãos.....
Sabia que um deles tinha sido assassinado, os outros deveriam estar passando pela mesma coisa.
Com 13 anos teve sua primeira experiência sexual, os hormônios latejavam em sua cabeça. Conheceu uma menina na rua e os dois transaram simplesmente porque estavam com vontade, feito totalmente pelo instinto animal que habita a natureza humana, sem amor, O que é amor ???????? Nenhum dos dois tivera um contato próximo com esse sentimento, queriam era fazer o que lhes dava uma sensação de prazer.... e fizeram um montão de vezes, porque era a melhor coisa que já experimentara depois da cola. Transavam feito loucos, sem cuidado algum, não existe nenhuma informação em seu cérebro sobre os riscos de contaminação , sobre gravidez ou outra coisa qualquer......

Passou a procura-lá todas as vezes que sentia vontade. Mas logo a menina não estava mais lá. Ele não sabia onde encontra-la e ficou por isso mesmo. Depois descobriu que a garota que era um pouco mais velha estava ganhando uma graninha fazendo o que eles faziam juntos. Cada um se vira como pode né ????? pensou.

Mas agora estava ele lá, com seus 14 anos olhando a aglomeração dos bacanas, com faixas e camisas.
Viu fotos nas camisas, viu alguma pessoas com raiva, outras gritando palavras de ordem.....
Uma senhora que passava perto parou e olhou para ele.
Os dois trocaram olhares curiosos e ele perguntou o que aquelas pessoas estavam fazendo reunidas na praia num sol de meio dia com todos aqueles aparatos....
A senhora respondeu:

- É uma manifestação, pedindo PAZ.
- O que é PAz ???????
Perguntou o menino com um olhar curioso.

- Paz ????
Boa pergunta como posso te explicar o que isso significa.
vc sabe o que é Amor ????

- Não !!!

A senhora inquieta tentou explica-lo.
- Amor é um sentimento bom que temos pelas pessoas queridas , de pai pra filho, de mãe pros seus filhotes , de irmão para irmã. entendeu ????

- Não..... Não tive pai, minha mãe foi esfaqueada por meu padrasto que morreu espancado na porta da nossa casa.
Meus irmãos eu nunca mais vi.

A senhora ficou constrangida!!!
Não sabia como explicar o que era o amor aquele menino.

- Bom... vou tentar de outra forma, vc já viu novela ????

- Vi mas não tenho paciência pra aquilo não.... é coisa de mulherzinha.

Ela notou que seria difícil definir AMOR, sem definir AMOR seria ainda mais difícil definir PAZ e assim ele nunca entenderia o que aquelas pessoas estavam fazendo reunidas com bandeiras e faixas.

- O que é PAZ afinal ????????????

- Meu filho....
Paz é compartilhar de sentimentos bons com as pessoas, é se sentir seguro , é estar livre da violência, é se sentir tranquilo e feliz.

Aquilo parecia não fazer o menor sentido para o menino, pois ele nunca experimentara nenhum daqueles sentimentos.

- Não compreendo.

E não compreendeu mesmo.

A senhora foi embora, frustrada porque não conseguiu explicar ao menino o significado das duas palavras a que tanto os seres humanos desejam. Foi pensando em como parecia IMBECIL ver aquela pessoas egoístas pedindo paz, sem perceber que para se ter paz é preciso ensinar a PAZ.
E que como aquele menino , existem milhares e milhares de outros que estão por ai convivendo diretamente com a antítese dessa sensação sem ao menos vislumbrarem a possibilidade de existir uma outra forma de vida nesse planeta. Percebeu que entre a calçada que se aglomeravam os meninos e a manifestação burguesa, existia um abismo muito maior do que poderiam imaginar ambos e que aquilo tudo nunca teria um efeito real.

Lembrou que já pedira paz....
Que já quis fazer parte desse evento, porque teve vítimas da violência em sua família, porém reparou que realmente será impossível explicar a esses meninos o verdadeiro significado dessa pequena palavra.

Eles nunca experimentaram a sensação de Paz ou Amor.
Estão rodeados de maus sentimentos, maus exemplos.

Por um segundo preferiu não ter tido contato com ele.
No momento seguinte, percebeu que não existe uma solução simples para esse problema, que não adianta ficar em casa de braços cruzados pedindo paz ....
Chegou a conclusão de que vai chegar sua hora em breve e que não vai poder explicar aquele menino que existem outras formas de vida. De que vai embora daqui sem compartilhar a paz.


O menino ficou lá, cheirando sua cola e rindo daquilo tudo.
Logo mais a noite quando estava dormindo foi atacado por um grupo de adolescentes de classe média, praticando segundo eles "justiça com as próprias mãos", e morreu ensanguentado na calçada sem saber o que significa amor ou paz.

Lá de cima alguns anjos choraram .....
Perceberam o quanto os homens se perderam em seus instintos mais sujos, como a desigualdade, o preconceito, a injustiça e tantas outras questões estavam jogando uns contra os outros.

Que na verdade não existem vítimas ou algozes, que todos estão afundados em seus argumentos egoístas preocupados somente com suas próprias vidas como se fosse possível se isolar em um mundo de utopias, se trancando e se cercando de grades para obter uma falsa sensação de segurança .

Para entender melhor esta história faça como os manifestantes que ficam por ai pedindo paz sem oferecer soluções para isso....
Digite no seu computador na pasta de busca por arquivos um arquivo chamado : Paz.exe.

Provavelmente ele vai retribuir com os dizeres....
Arquivo não encontrado.

É o que acontece no cérebro de muitos desses meninos que vagam por ai......
Pedidos por arquivos que não foram incluídos em suas programações !!!!!!!!

Paz....
Arquivo não encontrado.




Reflitam!!!!

Sorte

Caio

Um comentário:

Vi disse...

MUITO BOM! Reflexão perfeita!
Já estou seguindo!

Vi,
www.bardodataverna.blogspot.com