retirado do jornal estudantes do povo 3 orgão informativo do mepr
Ingressei no PSTU em 1998, até então participava de setores da chamada esquerda do PT (CST) e da igreja católica (CEB´s). A minha opção pelo PSTU se deu por sua aparente coesão, seus discursos inflamados e sua posição radical. Os companheiros que conheci do partido eram dedicados e combativos. No entanto, as contradições entre a disposição de luta da militância e as posições direitistas da direção foram se agudizando. Em 2002 rompi com o PSTU e ingressei nas fileiras do MEPR.
O apoio à candidatura da Frente "popular" eleitoreira no 2º turno, o apoio crítico a Lula e a campanha de abaixo-assinado para que o governo realize um plebiscito oficial sobre a Alca, são importantes revelações sobre o verdadeiro caráter da direção do PSTU. Todas estas posições claramente oportunistas mostram que durante quase quatro anos eu e muitos outros militantes, fomos enganados por esta direção. A direção do PSTU blefa quando fala de revolução, mantém um discurso radical somente para atrair a juventude revolucionária. O PSTU se transformou em um partido eleitoral e agora se prepara para ser oposição legal e bem comportada, cumprindo o mesmo papel que o PT durante a administração FHC.
PSTU, um partido eleitoral
A expulsão da Convergência Socialista em 1992 (antiga corrente do PT que dará origem ao PSTU), se deu por defenderem a conformação de um partido leninista, de quadros e centralizado. Suas posições eram claras a respeito da impossibilidade de transformação pela via eleitoral, propunham lutas radicalizadas, ocupações de fábricas, greve geral política e insurreição. Este era o programa.
O PSTU teve um crescimento expressivo após a sua atuação combativa na greve de petroleiros em 1995. Este se colocou contra a direção da CUT, que chamava o fim da greve, e manteve ocupada a refinaria de Cubatão-SP. A prática central do PSTU era a organização de greves e lutas no movimento estudantil.
Então, o PSTU cresceu e se espalhou por todo o país. O discurso foi ficando menos inflamado, poucas lutas puxadas e a prática cada vez mais eleitoral. Em 1996, participaram pela primeira vez com candidatos próprios a prefeito nas eleições municipais.
A participação eleitoral, que era apresentada à militância como sendo uma tática para a acumulação de forças e para "tornar o partido conhecido", pouco a pouco se tornou a política e prática central do PSTU. Realmente o PSTU ficou conhecido para o povo, porém apenas como mais um partido eleitoral. O PSTU se tornou conhecido e abandonou a luta. Desde então todas as mobilizações que organizaram, sem exceção, apontavam para a saída eleitoral. O "Fora FHC" vendia a ilusão de ser possível resolver os problemas do país mudando somente o gerente do Estado. No lugar de lutas concretas, manifestações e marchas pacíficas sobre Brasília. Palavras como radicalização, enfrentamento e revolução foram abandonadas.
Nem mesmo uma participação eleitoral digna tem sido feita. Em vez de apresentar um programa revolucionário (como propagandeava a direção para a militância) o PSTU se presta ao triste papel de cobrar de Lula e do PT uma posição progressista. Que humilhação! Implorar para que o PT, um partido operário-burguês, assuma uma posição revolucionária. Alguém já viu algum texto onde Lênin pede aos sociais-democratas de sua época, da II Internacional, para que tomassem posições revolucionárias? Lênin sempre combateu os oportunistas e os centristas com grande vigor.
A sinistra metamorfose feita pela direção do PSTU se expressou na análise do ex-candidato Zé Maria, no jornal "Opinião Socialista", sobre o pleito de 1998. Em seu artigo Zé Maria convida, mais uma vez, a "esquerda" do PT para entrar no PSTU, como vantagem apresentou para os pretensos correligionários a "expressiva" votação de menos de 1%, dizendo ser agora o PSTU também "uma alternativa eleitoral".
A estratégia da direção do PSTU de rachar o PT e atrair sua ala "esquerda" foi um verdadeiro fracasso. Babá, Heloísa Helena, Rosseto, Vladimir Palmeiras, todos os da "esquerda" petista se calaram no II Congresso do PT em 2000, aceitaram sem reclamações todas as propostas da "Articulação". Toda a "esquerda" petista foi às urnas com Lula e José Alencar, a reboque foi o PSTU se unindo com outros ilustres apoiadores: ACM, José Sarney, Orestes Quércia, Paulo Maluf, etc. Para onde foi o voto nulo prometido pela direção caso houvesse segundo turno? Os blefadores sempre arrumam desculpas, a direção do PSTU deu uma explicação realmente inédita, disse que "estava chamando o voto em Lula, mas isso não significava que estavam o apoiando"?! Sem comentários.
Apoio crítico ao governo Lula
O manifesto da nova frente no movimento estudantil organizada pelo PSTU, "Ruptura socialista", demonstra para onde a direção quer levar a combativa militância jovem. A conclusão do documento é que se deve convencer Lula nas ruas para que ele aplique medidas populares. A ilusão que vende a direção do PSTU é que Lula pode ser convencido a fazer um governo realmente popular. Tratam Lula como se não fosse justamente ele quem tivesse feito o esforço para convencer o FMI e George Bush de suas "boas intenções". Falam em luta para a conquista de nossos direitos, mas em todo o documento revelam a grande esperança que detêm em Lula.
O manifesto da "Ruptura socialista" exige "que o governo Lula rompa com o imperialismo e os banqueiros", como romper com o imperialismo e os banqueiros se para presidente do Banco Central Lula escolheu o ex-deputado do PSDB, Henrique Meirelles, que já foi presidente do Banco de Boston (um dos maiores bancos norte-americanos)?
A guerra imperialista que o EUA promove contra o Iraque, guerra de rapina e de dominação colonial do mundo, é chamada pela direção do PSTU de guerra de Bush. Como se esta guerra estivesse sendo praticada pela insanidade do presidente ianque e não fosse uma necessidade das altas cúpulas capitalistas para superar a crise da maior economia mundial. Se a guerra é de Bush o que propõem o PSTU, a volta de Clinton? No panfleto nacional do PSTU contra a guerra a posição reformista se torna mais clara, o intertítulo "O que o Brasil deve fazer para não sofrer as conseqüências da guerra?" abria uma matéria com recomendações de medidas econômicas que o governo Lula deveria adotar para que a economia brasileira não saísse prejudicada com a invasão do Iraque. O "internacionalismo proletário" do PSTU não durou nada, enquanto milhares de bombas caem sobre as massas iraquianas eles se prestam ao papel de assessores econômicos de Lula, só faltou endossarem a proposta do dono da Sadia e ministro da Indústria e do Comércio, Luis Fernando Furlan, de que o Brasil deveria aproveitar a invasão do Iraque para aumentar a exportação de produtos nacionais para a região.
Sobre a dominação colonial que o EUA estão implementando na América Latina, com o controle militar da Amazônia onde já possuem bases militares no Equador, Peru, Colômbia, Bolívia e Brasil (em Alcântara do Maranhão), o PSTU tem uma ousada proposta. A realização de um segundo plebiscito sobre a implementação da Alca (Área de Livre comércio das Américas). Um plebiscito deste foi realizado no ano passado e em nada atrapalhou os planos de implementação da Alca, que aliás já estão praticamente concluídos. A Alca não está em questão para os norte-americanos, ela é uma necessidade para o EUA e eles não abrirão mão do controle cativo do mercado latino-americano. Para derrotar a Alca temos que derrotar o imperialismo ianque. O PSTU argumenta que o plebiscito é uma forma de conscientização das massas, porém em seu manifesto do movimento estudantil diz "Lula precisa sair das negociações da Alca e realizar o Plebiscito Oficial para que o povo decida se o Brasil deve ou não virar uma colônia". Um plebiscito destes além de totalmente ineficaz é uma completa desmoralização para nosso país e nosso povo. Ser ou não colônia é uma questão que nem deve ser colocada, não podemos colocar em dúvida a libertação de nossa nação da dominação imperialista. Significa que se o resultado do "plebiscito oficial" for que o Brasil deve ser uma colônia do EUA o PSTU irá acatar? Seguindo o princípio do centralismo democrático se submeterá ao desejo da maioria?
No final do documento fazem mais uma vez um chamado à "esquerda" do PT. Dizem que "É uma vergonha que a esquerda do PT apóie Lula incondicionalmente", não se trata de vergonha alguma. A esquerda do PT é cúmplice deste atual governo e corroborou com a construção do projeto burguês imperialista que levou Lula ao poder. Vergonha é continuar dentro do PT. Vergonha é exigir de traidores algum tipo de ética.
Metamorfose premeditada
Lênin ao falar de Rosa Luxemburgo após sua morte dizia que apesar de seus erros ela havia sido uma grande revolucionária. Como metáfora ele utiliza um ditado russo que diz: "As águias podem voar baixo como galinhas, mas as galinhas nunca podem voar tão alto como as águias". Compara Rosa a uma águia, dizendo que por diversas vezes esteve junto às sujeiras das galinhas, isto é, às posições oportunistas, mas que nem por isto deixou de ser águia. Depois destes anos de militância chego a conclusão que o PSTU em seu início, como um ovo era impossível de saber em que se tornaria. As metamorfoses da luta de classes podem retardar ou acelerar o desenvolvimento do ovo, mas a essência de seu resultado se encontra em sua formação. Um ovo de galinha sempre resultará em uma galinha; um ovo de águia sempre resultará em uma águia.
O processo de transformação do PSTU não foi casual, foi premeditado. Fui enganado pela direção deste partido acreditando sinceramente que estava construindo a revolução. Assim como muitos jovens quero a revolução. Mas eu quero a revolução de verdade, não a revolução abstrata em futuro longínquo. Claro que para fazer a revolução precisa-se de acumulação de forças, porém não se acumula forças para a revolução com uma prática oportunista e eleitoreira. Para uma estratégia revolucionária exige-se táticas revolucionárias. A farsa se desfez. A direção do PSTU já não pode vender ovos de galinhas como se fossem de águias.
* Roberto, estudante da UEPA, ex-militante do PSTU.
A foto de José Maria aparece estampada agora em todos os panfletos e jornais do PSTU. Com qual objetivo? Querem tornar mais conhecida a imagem de seu candidato. Demonstram que seus objetivos são totalmente eleitoreiros, esperam que com o desgaste de Lula, Zé Maria seja uma alternativa.